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Consumo x ideias

Olá, tudo bem??

Um pausa para um cafezinho e vamos trocar ideias?


Temos falado em uma nova forma de consumir moda. Não somente moda, mas novas formas de consumo em geral, modos mais justos e prósperos de troca e interação entre as pessoas. Mas como fazer isso? Mudanças não são fáceis, especialmente quando envolvem coisas que são tão banais ou automatizadas para nós, como ir ao supermercado ou comprar roupas.
Quem nunca ficou em dúvida sobre o verdadeiro valor de alguma coisa? Essa dúvida é saudável. Quando falamos em valor e produto logo pensamos em preço. Mas este não é um texto sobre administração ou economia, embora possa ser usado para refletir sobre ambos. É sobre o que se esconde atrás das trocas que fazemos todos os dias, seja quando você vende o seu trabalho, seja quando você compra o trabalho dos outros.
Parece ser simples, com base em alguns cálculos chegamos a um valor numérico que vai definir o valor de troca de um produto ou serviço. Há quem diga que é fácil: usa-se uma série de regras e instrumentos, quantifica-se matéria-prima, taxas, impostos, erros e até mesmo o tempo pode ser medido e calculado. Sim, o objetivo é chegar a um número que, a princípio, facilita a troca. Há quem diga que o valor é definido pelo desejo de quem quer usufruir do serviço ou possuir determinado produto, o que pode nos levar ao céu ou ao inferno – se nosso produto for desejado podemos adicionar muitos zeros e nadar em rios de dinheiro, se o consumidor não estiver tão afim ou a concorrência for grande vamos nos estapear por cada centavo e trabalhar freneticamente para aumentar a produtividade; ao mesmo tempo, quem compra pode se endividar descontroladamente até satisfazer seus desejos ou beneficiar-se de produtos baratos que, por lhes atribuir pouco valor, tornam-se descartáveis.
O caso é que, em meio a tudo isso, perdemos a noção de valor das coisas. E se quisermos criar formas mais justas de interação e consumo, precisamos rever o modo como estimamos valores e fazemos trocas no nosso dia-a-dia.
Costumamos comparar orgânicos com alimentos convencionais, o produto da feira ou mercadinho com o do supermercado, o vestido da loja de departamentos com aquele feito sob medida pela costureira do bairro ou produzido por uma marca local.
Será que ao invés de questionar porque o orgânico é mais caro, não deveríamos nos perguntar o porquê do convencional ser tão barato? O que faz com que alguns produtores ou comerciantes de roupas ou alimentos consigam vender seus produtos a um valor tão reduzido? Quanto realmente vale? E porque não analisamos cada produto por si só, de acordo com a sua história?
Claro, não temos domínio sobre os processos produtivos de áreas que não são as nossas. Também não somos, necessariamente, obrigados a saber. Mas, quando investimos em algum objeto estamos promovendo toda a cadeia que o produziu. E isso é muito interessante e impactante.
Pensemos num exemplo prático. Posso adquirir uma bonita saia por 30 ou 40 Reais em uma loja de departamentos, ou uma loja de Fast Fashion, como chamamos no mundo da moda. E isso é comum, pois vemos ofertas semelhantes em outras lojas e muitos amigos ou conhecidos que fizeram compras semelhantes. Aí, o comum se torna normal. “Economicamente” o preço parece estar funcionando, pois foi precisamente calculado e as lojas estão aí, em pé, vendendo.
Como profissional da área da moda, algumas coisas sei e outras posso desconfiar de como as lojas chegam a estes valores. A produtividade celebrada pela indústria muitas vezes chega de uma mão-de-obra dispensável e mal paga em horas excessivas de trabalho. Sim, a tecnologia ajuda, como o corte em enfesto, que possibilita o corte de centenas de saias ao mesmo tempo em uma pilha de tecido. Mas a costura e outras etapas são exclusivamente mão-de-obra humana. São trabalhos que exigem paciência, tempo, precisão. Certamente queremos valorizar nosso tempo, mas o quanto valorizamos o tempo do outro?
Há muitas variáveis que envolvem a confecção de uma roupa. Poderíamos falar no algodão, na agricultura, na importação, no transporte, no poliéster – se ela for de tecido de origem petroquímica, como crepe, microfibra ou nylon… aliás, quanto vale um recurso que precisou de milhões de anos para se formar?
Nós dedicamos horas dos nossos dias ao trabalho, contentes ou não, e geramos moedas de troca. Depois trocamos isso por horas de vida de outras pessoas. O quanto de vida foi investida para que um determinado objeto pudesse existir? E para que esse objeto chegasse até nós?
Pensar o valor das coisas pode ser algo muito motivante e positivo. Podemos escolher ter menos posses e realizar trocas entre pessoas mais felizes. Podemos escolher diversificar nosso consumo e depender menos da exploração de um recurso específico (como algodão, carne ou petróleo). Podemos nos alegrar ao prestigiar o trabalho de amigos e vizinhos, ao poder contar a história de um objeto ou apenas em conhecer a sua origem.
Podemos também pensar formas de trocas para além do cálculo. Podemos muito, mas não podemos tudo, obviamente. Também não podemos muito sozinhos. Podemos mais no coletivo. Mas para transformarmos nossas ações e, posteriormente, a realidade precisamos ir além do que é meramente conveniente para refletirmos sobre o que é justo e o que é próspero não somente para mim, mas para nós.
Boas trocas!

Fonte: Capim Lab

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